Setembro Amarelo e os efeitos da pandemia

A campanha Setembro Amarelo é dedicada à prevenção ao suicídio e conscientização da população sobre esse assunto, que sem dúvida alguma, é tão delicado. Anualmente, cerca de 12 mil suicídios são registrados no Brasil, sendo que o número ultrapassa a marca de 1 milhão pelo mundo.

Na maioria das vezes, o ato de tirar a própria vida pode ser o resultado de uma série de conflitos internos, desenvolvidos ao longo dos anos. Alguns dos fatores que podem levar ao comportamento suicida estão fortemente ligados a transtornos mentais como depressão grave, bipolaridade ou esquizofrenia. Outros fatores são: problemas familiares, baixa condição socioeconômica, situações negativas durante a gravidez e abuso de substâncias.

O pensamento suicida leva o indivíduo a crer que retirando a própria vida, estará encontrando a solução para seus problemas e livrando de toda dor e sofrimento não só a si próprio, mas também as pessoas ao seu redor, quando na verdade, é totalmente o oposto.

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Origem do Setembro Amarelo

A campanha brasileira intitulada Setembro Amarelo teve início em 2014, e a escolha do 9º mês do ano se deve ao fato de que, no dia 10 de Setembro comemora-se o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. A origem do Setembro Amarelo tem ligação com o programa estadunidense Yellow Ribbon, que foi fundado em 1994 pelos pais e amigos de Mike Emme, que tirou sua vida quando não sabia o que dizer ou como deixar alguém saber que ele estava em apuros e precisava de ajuda.

“Não se culpem, mamãe e papai, amo vocês”. Estava assinado, “Com amor, Mike 23:45”. Às 23h52, seus pais pararam na entrada da garagem atrás daquele Mustang amarelo brilhante, porém sete minutos atrasado!

O legado começou quando Mike resgatou um Ford Mustang 1968 de um campo abandonado. Ele o comprou, reconstruiu (como fez com outros) e pintou de amarelo brilhante. À medida que Mike, com seus mustangs, se tornava cada vez mais conhecido por sua habilidade mecânica e por ajudar outros adolescentes e amigos, ele se tornou conhecido como “Mustang Mike”.

Após a tragédia, enquanto os amigos se reuniam para consolar a família e uns aos outros, a mãe de Mike conversou com os adolescentes sobre a criação de lembranças com as quais outras pessoas pudessem se lembrar dele, e eles decidiram que o amarelo seria usado em homenagem ao querido mustang amarelo de.

Quando os adolescentes questionaram a mãe de Mike sobre como poderiam ajudar, ela disse: "Se você está neste ponto de dor/desespero, por favor, peça ajuda! Não façam isso, não tentem o suicídio". As crianças fizeram anotações e foram feitos cartões com a mensagem "It's OK to Ask4Help" (Tudo bem em pedir ajuda). Na noite anterior ao velório de Mike, seus amigos compartilharam sua dor e lágrimas enquanto pregavam 500 fitas em cartões. Eles foram colocados em uma cesta no local onde Mike seria velado.

Imagem por Freepik

A fita tornou-se o símbolo do programa quando os adolescentes começaram a amarrá-los nos cabelos e prendê-los em suas roupas e chapéus no dia em que Mike morreu. O amarelo foi utilizado em memória de Mike e seu querido Mustang Amarelo ano 68, e como ele ajudou tantas pessoas. O coração no meio da fita é o símbolo dos sobreviventes. Nossas vozes falarão por aqueles que não podem.

Casos de depressão na pandemia

Em pesquisas realizadas com mais de 80 mil jovens em todo mundo, pôde-se constatar que a prevalência de sintomas de depressão e ansiedade durante o COVID-19 dobrou, em comparação com as estimativas pré-pandêmicas. A pesquisa foi publicada no JAMA Pediatrics, e segundo seus resultados, as análises do moderador revelaram que as taxas de prevalência foram mais altas quando coletadas posteriormente na pandemia, em adolescentes mais velhos e em meninas.

Antes da pandemia de COVID-19, as taxas de ansiedade generalizada clinicamente significativa e sintomas depressivos em grandes coortes de jovens eram de aproximadamente 11,6% e 12,9%, respectivamente. Desde que a COVID-19 foi declarada uma emergência internacional de saúde pública, os jovens em todo o mundo experimentaram interrupções dramáticas em suas vidas diárias.

Os jovens estão enfrentando isolamento social generalizado e marcos perdidos, junto com fechamentos de escolas, ordens de quarentena, aumento do estresse familiar e diminuição das interações com amigos e relacionamento amoroso, todos precipitantes potenciais de sofrimento psicológico e dificuldades de saúde mental na juventude.

O fato é que não só os mais jovens, mas toda a população, pode sofrer com esse período pandêmico. As pessoas em geral podem desenvolver problemas que antes estavam encubados, e a pandemia pode servir de gatilho para que se desencadeie uma série de acontecimentos.

Com relação aos efeitos da pandemia nas mais diversas faixas etárias, Renato Oliveira e Souza, chefe de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OPAS, diz que "não sabe-se exatamente como o aumento da depressão, da violência doméstica e do uso de substâncias afetará as taxas de suicídio, mas é importante conversar sobre o assunto, apoiar uns aos outros nestes tempos de pandemia e conhecer os sinais de alerta de suicídio para ajudar a preveni-lo."

Imagem por Freepik

Os "cancelamentos" durante a pandemia

Atualmente o termo "cancelar" ficou popular na internet, sendo utilizado quando se trata de julgar alguém, em especial por alguma atitude que não é bem vista entre os demais. Durante a pandemia, o número de "cancelados" e "canceladores" tem tido um aumento significativo, sendo que uma das causas desses tais cancelamentos, é o fato de algumas pessoas não respeitarem o isolamento social.

Entretanto, é importante saber que muitas fake news tem se propagado no mundo virtual, e aí é que mora o perigo: entre essas notícias falsas pode estar o compartilhamento de fotos antigas, que dão a entender que são atuais; isso leva a crer que tal pessoa que frequentou uma festa em 2019 por exemplo, estava na quebrando os protocolos da quarentena, quando na verdade foi vítima de uma fake news.

É importante saber que espalhar fake news, não só sobre o isolamento social mas sobre qualquer outro assunto, pode trazer desconforto tão grande a um indivíduo que este pode ser levado a tirar a própria vida. O ato de julgar qualquer pessoa por seus atos parece algo simples e normal, mas não devemos normalizar atitudes que podem ferir os sentimentos de um ser humano, o levando a um quadro de depressão muitas vezes sem volta. O ato de compartilhar fotos íntimas de uma pessoa sem seu consentimento também pode lhe causar constrangimento e abalar seu psicológico, trazendo assim enormes consequências, além de ser considerado crime.

A depressão pode ser prevenida com o cultivo de hábitos e pensamentos saudáveis, além do convívio positivo no aspecto social e emocional. Na maioria dos casos, é possível tratar a depressão de forma eficaz, melhorando a qualidade de vida do indivíduo e prevenindo os desfechos mais drásticos, como o pior deles: o suicídio.

Caso você esteja deprimido ou sente que precisa de ajuda, ligue 188 ou acesse o site da CVV.

Fonte: Yellow Ribbon | JAMA Pediatrics