O sistema de saúde do Canadá tem como princípio central a universalidade: todos os residentes têm acesso a serviços financiados por impostos, independentemente da condição socioeconômica. O modelo, semelhante ao de países como Brasil, Espanha e Reino Unido, é administrado de forma descentralizada, com cada província organizando sua própria rede de serviços — o que explica diferenças de cobertura, programas de apoio e tempos de espera entre regiões.
O sistema público é conhecido como Medicare e cobre principalmente serviços médicos e hospitalares considerados clinicamente necessários. Diferentemente do SUS brasileiro, que possui uma cobertura mais ampla e uniforme, o Medicare canadense deixa serviços como odontologia, fisioterapia, optometria e muitos medicamentos ambulatoriais sob responsabilidade de programas provinciais ou planos privados.
Vale lembrar que, nos Estados Unidos, o “Medicare” é outro programa, voltado principalmente a pessoas com 65 anos ou mais, sem relação direta com o modelo canadense. Ao todo, o Canadá conta com 13 planos provinciais e territoriais, alinhados a diretrizes federais, mas com regras e coberturas próprias.
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Lei de Saúde do Canadá
A Canada Health Act (CHA) é a base legal que orienta o sistema público. Seu objetivo é:
“Proteger, promover e restaurar o bem-estar dos residentes do Canadá e garantir acesso razoável aos serviços de saúde sem barreiras financeiras.”

Para receber integralmente os repasses federais do Canada Health Transfer, cada província precisa cumprir cinco condições essenciais:
Administração pública
Os planos devem ser administrados por uma autoridade pública, sem fins lucrativos e com transparência.
Abrangência
Os planos devem cobrir serviços médicos e hospitalares considerados clinicamente necessários. A inclusão de serviços virtuais ou telemedicina depende de regulamentação provincial.
Universalidade
Todos os residentes de cada província devem ter acesso ao plano. Em alguns locais, novos imigrantes cumprem período de carência.
Portabilidade
A cobertura se mantém válida em todo o Canadá. Reembolsos internacionais estão disponíveis, mas com valores limitados e regras específicas por província.
Acessibilidade
Não pode haver barreiras financeiras para serviços cobertos. Cobranças indevidas (“user fees”) podem resultar em penalidades federais.
Além disso, a lei prevê que, caso uma província cobre taxas por serviços que deveriam ser públicos, o governo federal pode reduzir repasses, garantindo que o princípio da universalidade seja respeitado.
Medicare
Embora siga diretrizes nacionais, o Medicare é estruturado de forma descentralizada. As províncias e territórios são responsáveis pela organização dos serviços, pela contratação de profissionais, pelos programas de prevenção e pelo gerenciamento das redes hospitalares. Dessa forma, há diferenças entre elas em áreas como:
- elegibilidade para programas complementares;
- suporte à saúde mental;
- cobertura de medicamentos;
- integração de atendimentos digitais e telemedicina;
- incentivos para médicos atuarem em regiões rurais.
Durante e após a pandemia, várias províncias incorporaram permanentemente consultas virtuais aos seus sistemas, criando normas específicas de remuneração e redimensionando o acesso em regiões com escassez de profissionais.

O governo federal, por sua vez, continua responsável por:
- definir padrões nacionais via Canada Health Act;
- repassar recursos financeiros por meio do Canada Health Transfer;
- supervisionar o cumprimento das normas;
- administrar serviços de saúde diretamente para alguns grupos específicos.
Prestação de serviços de saúde a grupos específicos
O governo federal oferece serviços diretos para grupos específicos da população, incluindo:
- povos das Primeiras Nações que vivem em reservas;
- Inuit, reconhecidos constitucionalmente como grupo indígena distinto;
- membros das Forças Armadas Canadenses;
- veteranos elegíveis;
- detentos de penitenciárias federais;
- alguns grupos de refugiados.
Entre os programas federais está o Non-Insured Health Benefits (NIHB), que oferece benefícios adicionais como medicamentos, transporte médico, serviços odontológicos e óculos para povos indígenas elegíveis. Nas regiões do Norte e em áreas remotas, há parcerias entre o governo federal e organizações locais para garantir acesso contínuo, especialmente em emergências.
Family doctor, Walk-in clinic e Hospital
O sistema canadense prioriza o acompanhamento por um Family doctor — o médico de família — que atua como o principal ponto de entrada do paciente. Ele realiza o atendimento inicial, acompanha o histórico de saúde, pede exames e faz encaminhamentos para especialistas. Porém, devido à escassez crescente de médicos de família em algumas províncias, listas de espera têm aumentado nos últimos anos.
Para oferecer alternativas, muitas regiões ampliaram a atuação de nurse practitioners (enfermeiras especialistas), equipes interdisciplinares e clínicas comunitárias, permitindo que mais residentes recebam acompanhamento primário.
As Walk-in clinics continuam como opção para atendimentos rápidos e não emergenciais, funcionando por ordem de chegada. Algumas províncias também adotaram triagens digitais e consultas virtuais para orientar pacientes antes da ida presencial.
Os hospitais no Canadá concentram-se em emergências e cuidados complexos. Para melhorar o fluxo, muitas unidades reforçaram protocolos de triagem, integraram ferramentas digitais e reorganizaram departamentos após o aumento da demanda durante a pandemia.
Oportunidades para médicos de família no mercado canadense
Diante da escassez de médicos de família em diversas províncias canadenses, o mercado de trabalho para esses profissionais tem se mostrado especialmente favorável. A demanda por family physicians permanece alta em áreas urbanas, rurais e remotas, e programas federais e provinciais oferecem incentivos para atrair e reter médicos, incluindo vagas em regiões com carência de profissionais, atuação em equipes multiprofissionais e oportunidades em modelos de atenção primária bem estruturados.
Para médicos que buscam estabilidade, qualidade de vida e um mercado com grande necessidade dessa mão de obra, exercer a profissão no Canadá pode representar uma excelente oportunidade de crescimento e impacto social.

Cobertura de medicamentos, odontologia e serviços complementares
O Medicare cobre apenas serviços considerados clinicamente necessários em ambiente médico ou hospitalar. Medicamentos prescritos fora do hospital são regidos por programas provinciais, como o Ontario Drug Benefit e o BC Fair PharmaCare, voltados para idosos, crianças e famílias de baixa renda.
Na odontologia, o sistema público não cobre tratamentos de rotina. Contudo, desde 2023, o governo federal deu início ao Canadian Dental Care Plan (CDCP), um programa oficial para ampliar o acesso odontológico para famílias de baixa renda. A implementação está sendo feita por faixas de elegibilidade, começando por idosos, pessoas com deficiência e crianças, com expansão gradual planejada.
Serviços como fisioterapia, optometria, psicologia e terapias de reabilitação não fazem parte da cobertura básica e geralmente dependem de seguros privados, frequentemente oferecidos por empregadores.
O governo federal também publicou legislação sobre o National Pharmacare, um passo inicial rumo a um sistema nacional para medicamentos prescritos. No entanto, sua implementação dependerá de acordos com as províncias, que ainda estão em andamento.
Tempo de espera, triagem e distribuição dos serviços de saúde no Canadá
Um dos temas mais discutidos no sistema de saúde canadense é o tempo de espera para consultas especializadas e procedimentos eletivos. Como o atendimento é organizado pela necessidade clínica, e não pela ordem de chegada, pacientes mais graves são priorizados. Isso pode gerar espera prolongada para problemas de menor urgência.
Para organizar essa priorização, o país utiliza modelos de triagem como o Canadian Triage and Acuity Scale (CTAS), que classifica pacientes em cinco níveis de urgência e define o tempo máximo recomendado para atendimento. Esse protocolo é amplamente usado em emergências, garantindo que casos críticos tenham acesso rápido.

Províncias também vêm investindo em estratégias para reduzir filas, como:
- centros de diagnóstico rápido (rapid-access clinics);
- ampliação da telemedicina;
- integração de equipes interdisciplinares;
- parcerias entre médicos de família e especialistas;
- serviços móveis de saúde em regiões remotas.
O acesso também varia entre províncias. Regiões densamente povoadas, como Ontário e Quebec, enfrentam alta demanda, enquanto territórios no Norte, como Yukon e Nunavut, lidam com desafios de distância, clima e logística. Mesmo assim, o governo federal e as províncias trabalham para modernizar o sistema por meio de investimentos em tecnologia, expansão da infraestrutura e planejamento integrado.
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- Como funciona o sistema de saúde no Chile
- Como funciona o sistema de saúde no Panamá
- Como funciona o sistema de saúde no México
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- Como funciona o sistema de saúde em Portugal
- Como funciona o sistema de saúde nos EUA
- Como funciona o sistema de saúde na Alemanha
Fonte: Site Oficial do Governo do Canadá
Última atualização: Novembro de 2025
